quarta-feira, 4 de junho de 2008

A verdadeira aliança (artigo)

Anteriormente, postei aqui algumas reflexões sobre a novela Duas Caras. Agora, confesso: não comecei a escrever por achar necessário tecer minha crítica da novela. Não. Desde que parei de trabalhar na Globo nunca mais me prendi por qualquer programa de televisão que seja. Assisto quando não tenho coisa melhor pra fazer e vou zapeando pra ver o que acho. Nessas idas e vindas, muitas vezes a preguiça de procurar algo bom e a curiosidade de saber sobre o que o povo na rua tanto fala, invariavelmente acabam me deixando parar em frente a novela das oito. Mas foi assistindo a uma cena que fazia brilhar as alianças de casamento de Maria Paula e Ferraço que me motivei a começar a refletir sobre a novela. O texto abaixo foi o meu primeiro sobre a trama de Aguinaldo Silva. Só não o publiquei junto com as outras reflexões, porque ele não é crítica ao trabalho do autor. É fruto apenas de uma carona que peguei na contemplação de uma imagem da novela para falar de minha relação (inexistente) com jóias e alianças. Depois disso, gostei da brincadeira e acabei me empolgando com alguns finais que o autor escreveu para seus personagens. Mas agora, atenhamo-nos à tal cena das alianças.

QUARTO / DIA - Ferraço e Maria Paula dormem nus, na cama de recém re-casados. A câmera percorre seus corpos abraçados e o brilho de suas alianças grita na tela. Então me dou conta de porque não gosto de usar jóias nem muito brilho. Além da minha pele não gostar do contato permanente com o metal (Freud explica), há a questão estética. Não sou linda por fora, mas não quero que, da minha imagem, se sobreponha o brilho dos acessórios. Quero que brilhem meus olhos, meu sorriso. Quero que minha alma cintile para iluminar meu caminho e os lugares onde eu eu estiver. Tenho a impressão que muitos acessórios, brilhos, badulaques, acabam por desviar a atenção do que realmente importa: a pessoa que está vestindo aquilo tudo. Sem contar que o excesso faz as pessoas parecerem árvores de natal, né, vamos combinar!

Voltando ao anel matrimonial, apesar de achar bonita a significação simbólica do objeto, tenho certeza de que a verdadeira aliança do casamento não está no (vil) metal. Não preciso de um bambolê de dedo pra me lembrar do meu compromisso com meu marido. A rotina se encarrega disso. E como! E sem amor verdadeiro e muita vontade de dar certo, não há aliança que segure a relação. Como não gosto de anéis no meu dedo, tenho certeza de que não é necessário me auto-impingir o uso da aliança só para seguir a tradição ou dar satisfação pra estranhos.

Antes, admito, me sentia culpada por não querer usar. Meu marido usa, gosta dessas coisas e a maioria das pessoas que me rodeiam usam. Outro dia, no meio da semana, saí com ele na rua, sem aliança, mas com vestidinho curto e salto alto, em pleno horário de almoço. E ele de terno, com a bendita aliança no dedo. E não é que passou pela minha cabeça: "xiii, do jeito que estou, vão supor que sou sua amante"? Foi então que me dei conta: que pensem! Já imaginou que privilégio a mulher estar há 11 anos com um cara, quatro deles dividindo contas, casa e problemas e mesmo assim ser vista como amante desse cara? Isso definitivamente não é pra qualquer uma. É um luxo! Pois agora está decidido: amo cada vez mais meu marido, mas não uso mais aliança.


Leia o que escrevi sobre os finais da novela, aqui.

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