segunda-feira, 2 de junho de 2008

Minhas Duas Caras - reflexões sobre a novela (artigo)

Não assisti toda a novela Duas Caras, nem o último capítulo todo. Era sábado e graças à Deus eu estava me arrumando para sair de casa. Mas admiro Aguinaldo Silva pelo que ele fez. Os comentários que teço agora são muito mais uma carona para reflexão própria e alheia do que crítica. E me atenho apenas a alguns trechos do penúltimo capítulo. Esse eu assisti.

"O SONHO A GENTE NÃO AMARRA" - ZÉ DA FEIRA
Amei a fala do personagem inspirado em Zeca Pagodinho! Vocês repararam o artifício que Aguinaldo usou para reclamar da censura? Mesmo cumprindo sua função social em falar dos Alcoólatras Anônimos, ele deu um recado nas entrelinhas, quando o letrista da Portelinha disse que a inspiração para compor veio da sua bebedeira sonâmbula. Porque "o sonho a gente não amarra"! Nota 10 para Aguinaldo Silva e seus colaboradores.

Afinal, quantos sambistas queridos não deixaram a vida lhes levarem, compondo e cantando o amor e as coisas boas de viver, regados a uma cervejinha que não lhes fez nada de mal, a não ser lhes trazer alguma doença? Quem não falece de doença associada ao álcool, tem altas chances de ser atingido fatalmente por uma bala perdida, ou infectado por um tumor maligno. Se até os alimentos vêem cheios de conservantes e sujeiras cancerígenas! Afinal, não é porque alguns se viciam e ficam agressivos sob o efeito do álcool, que devemos concluir que todos que bebem seguirão o mesmo caminho. Predisposição genética, intelectual, emocional e sorte também contam, caros amigos...

"BELEZA INDECENTE" – JUVENAL ANTENA SOBRE ALZIRA
Não me dei ao trabalho de procurar saber o que aconteceu com o casal no último capítulo. Mas, "justamente", dou nota 10 para a esperteza de Aguinaldo e seus colaboradores na fala de Juvenal Antena no penúltimo capítulo, em cena magistralmente interpretada por Fagundes. Quando ele diz que a beleza da Flávia Alessandra é indecente, fiquei passada. Como o autor conseguiu dizer tanto em tão poucas palavras!

Ali me lembrei dos muçulmanos, querendo tapar a todo custo as indecências de nós, mulheres. Parece-me que voltamos aos tempos de bíblia, quando se pensava que a menstruação era uma impureza da mulher, que nós deveríamos nos sentir culpadas por sermos gostosas. Como é que os brasileiros, do país da praia e corpos expostos em desfile, conhecido pelas mulheres bonitas e sem pudor, como é que esses brasileiros podem fazer tanta questão de censurar a beleza feminina em programas noturnos de rede nacional? Só pode ser inveja de gente feia e mal comida e outros veículos que não fazem tanto sucesso e ganham tanto dinheiro como a líder de audiência!

Prazer é divino. Guerra é infernal!
Nesse momento, me lembro ainda do filme "O povo contra Larry Flynt". Estou com ele, quando dizia que pior do que expor as pessoas ao erotismo é expor, exaltar e ainda por cima vitimizar países inteiros com a truculenta violência da guerra, defendida oficialmente pelos governos, e, acrescento eu, tão sanguinariamente representada em desenhos e games infantis atuais.Prazer é divino. Guerra é infernal.

Mas tudo bem. Alzira respondeu muito bem aos invejosos, quando finalmente assumiu e teve a coragem de declarar, com segurança, à Juvenal: "Eu gosto de me sentir desejada, eu no poste e eles lá, na platéia." Uma ótima maneira de pelo menos tentar mostrar aos teleguiados que a profissão de dançarina "exótica" (engloba-se aí strip-teasers) não necessariamente tem que ser vinculada à profissão de prostituta. Quantas atrizes famosas não estampam revistas com seus corpos nus, para o deleite masculino dos Juvenais de plantão? Só corrijo uma coisinha. Isso de ter que dançar pra se sentir desejada vale mais pra gente feia, porque a Flávia Alessandra, cá pra nós, basta ficar parada, com aquela beleza e sorriso que já enlouquece os cuecas. Fala sério!

"SOU O HOMEM MAIS FELIZ DO MUNDO" - BERNADINHO
E já que falei de guerra e prazer, acabo meu longo post elogiando o trio Bernadinho mais o tal do Carlão. Todos seriam os homens mais felizes do mundo - como Bernardinho recitou quando acordou ao lado de seus amores - se conseguissem dar vazão a seus verdadeiros desejos, sem limites e mãos invisíveis e intrometidas a lhes privar do amor universal. Não é melhor amar do que agredir?

Pena que não rolou o beijo no casório pra chocar os caretas do Brasil. Mas algo me diz que se fosse só um estalinho, não iria ter tanta polêmica assim. O assunto foi muito bem abordado e o carisma de Bernardo Mendonça ajudou brilhantemente a humanizar os homo e bissexuais tão estereotipados e mal julgados por aí. Parabéns Aguinaldo, Thiago e Wolf Maya.

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