quinta-feira, 19 de junho de 2008

Sobre o medo (artigo)

O medo é uma merda. Em todos os sentidos. Tudo bem que está comprovado cientificamente que ele aciona uma determinada substância que põe o corpo em estado de alerta. É como se ele acendesse uma luzinha que nos protege em determinadas situações. O problema é quando essa luz acende na hora errada e acaba ofuscando as visões, cegando temporariamente as pessoas que estão por perto. É aí que mora o verdadeiro perigo. É dessa cegueira que se deve ter medo!

Por causa do medo de engordar, as mulheres comem mal, fazem loucuras e estragam a saúde. O receio de envelhecer também faz a mulherada cometer as maiores sandices em nome da eterna juventude. O medo de perder uma promoção ou cargo para o colega ao lado faz os funcionários virarem verdadeiros fantasmas, sem vida pessoal, máquinas tratoras a passarem por cima de tudo e de todos para se manterem no emprego. O medo de perder o filho faz a sogra implicar com uma mulher que nem sequer se deu ao trabalho de conhecer. O temor em ficar falado perante a sociedade também faz os sujeitos cometerem as maiores doideiras em nome da imagem. O medo do fracasso faz o povo manter tudo como sempre foi, mata a espontaneidade, a criatividade e a inovação. Não permite que novas idéias sejam desenvolvidas.

E o mais irônico disso tudo é que o medo acaba por gerar aquilo que o sujeito tanto teme. Se o cara receia tanto a agressão do outro, por que já começa sua relação na defensiva? Ele não vê que isso só fará inspirar no outro a desconfiança, instigando aí o nascimento de um motivo para brotar a tão temida agressão? A sogra não percebe que se já iniciar sua relação com a nora na posição de inimiga vai estar dando motivos para a norinha se afastar e eventualmente até "roubar" o filho dela? As mulheres neuróticas por cremes, botox e plásticas não percebem o quanto esses artifícios as deixam com cara de que querem esconder a idade? Ou seja, por que elas haveriam de querer esconder a idade se não estivessem velhas?

Por isso, meu conselho hoje é um só: viva a vida de peito aberto! Pense na sua saúde, inclusive a mental. Coma aquilo que gosta e com certeza você ficará bonita, porque felicidade embeleza, não engorda e não tem contra-indicação. Pare de pensar na velhice que ela demora mais para aparecer. Faça o seu trabalho da melhor maneira possível. O que é seu está guardado. E não se esqueça de dar atenção a sua família e seus amigos, porque quando outra pessoa mais nova roubar o seu lugar no trabalho, é com eles que você poderá contar. Viva a vida conforme seus princípios, conforme dita o seu prazer. Assim, sua imagem com certeza será a de uma pessoa feliz. E felicidade deixa qualquer um lindo. Os outros vão falar, claro. De inveja. Trate bem sua nora, seu genro, sua sogra, seu sogro, cunhados, enteados e madrastas. Se eles vão fazer parte da sua família é bom se dar bem com eles. Tente, invente, sempre que der faça diferente. Na pior das hipóteses, você não terá fracassado por não tentar. Não crie expectativas negativas. Sem querer dar uma de apóstola da lei do Segredo, mas já pegando carona na teoria, pensamento positivo atrai coisas positivas.Você já se deu conta do poder que tem em mãos?

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Sobre a prisão dos militares gays (artigo)

A prisão do sargento Laci Araújo e seu companheiro, Fernando Alcântara, é um belo (pra não dizer péssimo!) exemplo da homofobia do exército. Mas, nesse caso, não grita apenas a homofobia (aversão, preconceito, medo de homossexual). Berra em alto e bom som a hipocrisia.

Enquanto o sargento veadinho (se é que eles não o chamaram de nomes piores) exercia sua homossexualidade com discrição, ok, eles o "aturavam". Foi só o cara resolver falar de sua vida amorosa à imprensa (Revista Época) para o exército querer cortar as asinhas de seu dedicado funcionário e puni-lo com a prisão. E ainda fez o mesmo com o companheiro dele! Afinal, a transgressão sexual, desvio, sei lá como eles chamam, a diferença é aceita até em altos postos das "conceituadas" forças amadas se os transgressores não fizerem alarde de sua sexualidade. Agora, assumir em público que um militar é gay é manchar o filme da instituição, não é mesmo?

O marido do sargento Laci, Fernando Alcântara, afirmou que foi torturado pelos companheiros de trabalho. Se bobear, tinha aí no bolo de espancadores um ou mais homens que gostam de relações anais com outros homens. E mesmo que não tivesse, aproveito agora para dizer o que sempre pensei sobre a homofobia: será que esse ódio todo aos gays não são resultado de um medo danado de virar gay? Sei que existe violência banal, sem motivo, e a violência com diferentes, mas temo ainda mais a violência pela privação. Não se bate ou se mata só para roubar comida ou dinheiro. Pode se agredir pela privação de desejos reprimidos. Muitas vezes a agressão vem pela inveja e pelo medo. Inveja de não conseguir ser o que o outro é, como, por exemplo, ser assumidamente gay. A privação de ser gay. E medo da tentação. Medo de como o outro pode mudar o seu tão formatado mundinho se você resolver abrir as portas pra ele entrar, literalmente. Afinal, não dizem que os homens que experimentam o lado de lá gostam tanto que não voltam mais? Não digo que isso explica tudo, todos os casos, mas são coisas para se pensar, você não acha?

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Comentário de Paulo Sérgio Valle

Aqui havia um índice, mas toda vez que eu publico um novo texto, crio um novo índice e apago o antigo, para que o índice seja o último post publicado, como se fosse a home de um site (coisas de quem tem dificuldade com a tecnologia). Só não apago este post porque resolveram fazer um comentário justamente nesse índice. E os comentários a gente não deleta! Ainda mais o comentário carinhoso de um primo distante e famoso a quem admiro muito: o compositor e escritor Paulo Sérgio Valle.

Acúmulos e fartura (conto)

Ela adorava acumular coisas. Desde pequena, acumulava palavras, histórias, sorrisos, beijos e brincadeiras. O quarto era cheio de bonecas, cores e brinquedos. Para compensar o fato de não ter irmãos, acumulou também os amiguinhos. Comida era outra mania. Desde muito pequena, ela se sentia totalmente protegida na dispensa da avó. Ali, nunca faltava biscoito, doces e delícias em geral.

Quando ela virou adolescente, veio a separação dos pais e a diminuição da renda familiar. Foi quando ela passou a cultivar o estranho hábito de abrir os armários da madrasta. Sempre que lhe angustiava a falta de amor naquela casa, ela corria para o banheiro e escancarava o sorriso ao dar de cara com todos aquelas porções extras de cotonete, papel higiênico e pasta de dente. Aquilo lhe dava um alívio imenso.

A adolescência e a juventude também foram fases de acúmulo de namorados e casos passageiros. Ela não se contentava com um só amor, verdadeiro e duradouro. Se a relação acabasse de repente, como é que ela ficaria? Não ter um ou mais reservas era totalmente proibido.

E então, ela acumulou problemas, quilos a mais, lágrimas e, mais uma vez, amigos. Muitos pretensos amigos. Ela tinha que esquecer as próprias dores cuidando dos sofrimentos alheios. Ela adorava acumular os problemas de outrem. Veio a fase do acúmulo de festas, dias na praia e reuniões que varavam as madrugadas em sua casa.

Depois, na época da faculdade, ela não acumulou livros e estudo, mas sim trabalho. Como ela gostava de trabalhar! Ela nem precisava do dinheiro, nessa época, mas adorava acumular trabalho. E, com a renda do trabalho, começou a acumular mais coisas novas. Principalmente música e roupa. Dois vícios.

Quando ela engatou num namoro sério, deixou um pouco de lado os amigos. Mas continuava acumulando trabalho e roupas novas. E nas segundas-feiras, quando voltava da casa dos pais do namorado, acumulava reclamações. Ela sofria por gastar tanto tempo presa na casa dos outros. Não saía mais de casa, quase não via os próprios amigos. Só acumulava trabalho, muito trabalho, e horas à toa na casa dos sogros. Que saudades da sua vida de festas, saídas com os amigos... Que saudades da sua liberdade!

Então ela se casou. E continuou a acumular trabalho e roupas. No início do casamento, ela voltou a acumular reuniões com amigos em casa. Que maravilha! Agora ela não precisava mais ficar enfurnada o final de semana na casa dos outros. E cada dia vinha um amigo diferente curtir a casinha dela, lar dos recém-casados.

Foi nessa época que ela começou a acumular rolhas. Para cada vinho aberto e consumido em casa, ela guardava a rolha numa bandeja. Os amigos pararam de frequentar sua casa, mas a bandeja continuava se enchendo de rolhas. Então ela comprou uma garrafa de vidro gigante, que hoje tem metade de sua extensão lotada de rolhas.

A menina que acumulava trabalho não tem mais trabalho e, por conta disso, teve que parar de acumular roupas também. Não há mais dinheiro para acumular nada. Só acumula histórias (ela não pára de escrever) e reclamações do marido, que continua acumulando trabalho e dinheiro e, apesar de respeitar, não entende a fase vivida pela mulher.

Os amigos também estão longe, ocupados com seu acúmulo de filhos, trabalho e problemas. Os beijos, abraços e sorrisos dos pais, ela também não acumula mais. Eles também estão longe. A dispensa da avó também é relíquia do passado.

Agora, a menina que acumulava tudo, só tem uma coisa para acumular: tempo. Até que enfim! Assim, ela pode finalmente encarar a verdadeira fartura da vida. E, sem o peso do acúmulo supérfluo nas costas, pode enfim chegar muito mais longe.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

A verdadeira aliança (artigo)

Anteriormente, postei aqui algumas reflexões sobre a novela Duas Caras. Agora, confesso: não comecei a escrever por achar necessário tecer minha crítica da novela. Não. Desde que parei de trabalhar na Globo nunca mais me prendi por qualquer programa de televisão que seja. Assisto quando não tenho coisa melhor pra fazer e vou zapeando pra ver o que acho. Nessas idas e vindas, muitas vezes a preguiça de procurar algo bom e a curiosidade de saber sobre o que o povo na rua tanto fala, invariavelmente acabam me deixando parar em frente a novela das oito. Mas foi assistindo a uma cena que fazia brilhar as alianças de casamento de Maria Paula e Ferraço que me motivei a começar a refletir sobre a novela. O texto abaixo foi o meu primeiro sobre a trama de Aguinaldo Silva. Só não o publiquei junto com as outras reflexões, porque ele não é crítica ao trabalho do autor. É fruto apenas de uma carona que peguei na contemplação de uma imagem da novela para falar de minha relação (inexistente) com jóias e alianças. Depois disso, gostei da brincadeira e acabei me empolgando com alguns finais que o autor escreveu para seus personagens. Mas agora, atenhamo-nos à tal cena das alianças.

QUARTO / DIA - Ferraço e Maria Paula dormem nus, na cama de recém re-casados. A câmera percorre seus corpos abraçados e o brilho de suas alianças grita na tela. Então me dou conta de porque não gosto de usar jóias nem muito brilho. Além da minha pele não gostar do contato permanente com o metal (Freud explica), há a questão estética. Não sou linda por fora, mas não quero que, da minha imagem, se sobreponha o brilho dos acessórios. Quero que brilhem meus olhos, meu sorriso. Quero que minha alma cintile para iluminar meu caminho e os lugares onde eu eu estiver. Tenho a impressão que muitos acessórios, brilhos, badulaques, acabam por desviar a atenção do que realmente importa: a pessoa que está vestindo aquilo tudo. Sem contar que o excesso faz as pessoas parecerem árvores de natal, né, vamos combinar!

Voltando ao anel matrimonial, apesar de achar bonita a significação simbólica do objeto, tenho certeza de que a verdadeira aliança do casamento não está no (vil) metal. Não preciso de um bambolê de dedo pra me lembrar do meu compromisso com meu marido. A rotina se encarrega disso. E como! E sem amor verdadeiro e muita vontade de dar certo, não há aliança que segure a relação. Como não gosto de anéis no meu dedo, tenho certeza de que não é necessário me auto-impingir o uso da aliança só para seguir a tradição ou dar satisfação pra estranhos.

Antes, admito, me sentia culpada por não querer usar. Meu marido usa, gosta dessas coisas e a maioria das pessoas que me rodeiam usam. Outro dia, no meio da semana, saí com ele na rua, sem aliança, mas com vestidinho curto e salto alto, em pleno horário de almoço. E ele de terno, com a bendita aliança no dedo. E não é que passou pela minha cabeça: "xiii, do jeito que estou, vão supor que sou sua amante"? Foi então que me dei conta: que pensem! Já imaginou que privilégio a mulher estar há 11 anos com um cara, quatro deles dividindo contas, casa e problemas e mesmo assim ser vista como amante desse cara? Isso definitivamente não é pra qualquer uma. É um luxo! Pois agora está decidido: amo cada vez mais meu marido, mas não uso mais aliança.


Leia o que escrevi sobre os finais da novela, aqui.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Repaixão (poesia erótica)

Estou apaixonada mais uma vez.
Encantada com tua voz.
Teus olhos negros tão profundos,
de ti me inundo, vontade atroz.

Teu corpo macio me aconchega,
me aquece a alma, me deixa cega.
Só vejo amor, esqueço o mundo,
me dá tua mão e me carrega.

Me leva pra longe de todo barulho,
e me derrama em tua cama.
Esqueceremos o nosso orgulho
e deitaremos em nossa fama.

Porque é pra isso que estamos aqui,
para explorar nossa libido.
Afinal, estou amando,
me apaixonei por meu marido!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Minhas Duas Caras - reflexões sobre a novela (artigo)

Não assisti toda a novela Duas Caras, nem o último capítulo todo. Era sábado e graças à Deus eu estava me arrumando para sair de casa. Mas admiro Aguinaldo Silva pelo que ele fez. Os comentários que teço agora são muito mais uma carona para reflexão própria e alheia do que crítica. E me atenho apenas a alguns trechos do penúltimo capítulo. Esse eu assisti.

"O SONHO A GENTE NÃO AMARRA" - ZÉ DA FEIRA
Amei a fala do personagem inspirado em Zeca Pagodinho! Vocês repararam o artifício que Aguinaldo usou para reclamar da censura? Mesmo cumprindo sua função social em falar dos Alcoólatras Anônimos, ele deu um recado nas entrelinhas, quando o letrista da Portelinha disse que a inspiração para compor veio da sua bebedeira sonâmbula. Porque "o sonho a gente não amarra"! Nota 10 para Aguinaldo Silva e seus colaboradores.

Afinal, quantos sambistas queridos não deixaram a vida lhes levarem, compondo e cantando o amor e as coisas boas de viver, regados a uma cervejinha que não lhes fez nada de mal, a não ser lhes trazer alguma doença? Quem não falece de doença associada ao álcool, tem altas chances de ser atingido fatalmente por uma bala perdida, ou infectado por um tumor maligno. Se até os alimentos vêem cheios de conservantes e sujeiras cancerígenas! Afinal, não é porque alguns se viciam e ficam agressivos sob o efeito do álcool, que devemos concluir que todos que bebem seguirão o mesmo caminho. Predisposição genética, intelectual, emocional e sorte também contam, caros amigos...

"BELEZA INDECENTE" – JUVENAL ANTENA SOBRE ALZIRA
Não me dei ao trabalho de procurar saber o que aconteceu com o casal no último capítulo. Mas, "justamente", dou nota 10 para a esperteza de Aguinaldo e seus colaboradores na fala de Juvenal Antena no penúltimo capítulo, em cena magistralmente interpretada por Fagundes. Quando ele diz que a beleza da Flávia Alessandra é indecente, fiquei passada. Como o autor conseguiu dizer tanto em tão poucas palavras!

Ali me lembrei dos muçulmanos, querendo tapar a todo custo as indecências de nós, mulheres. Parece-me que voltamos aos tempos de bíblia, quando se pensava que a menstruação era uma impureza da mulher, que nós deveríamos nos sentir culpadas por sermos gostosas. Como é que os brasileiros, do país da praia e corpos expostos em desfile, conhecido pelas mulheres bonitas e sem pudor, como é que esses brasileiros podem fazer tanta questão de censurar a beleza feminina em programas noturnos de rede nacional? Só pode ser inveja de gente feia e mal comida e outros veículos que não fazem tanto sucesso e ganham tanto dinheiro como a líder de audiência!

Prazer é divino. Guerra é infernal!
Nesse momento, me lembro ainda do filme "O povo contra Larry Flynt". Estou com ele, quando dizia que pior do que expor as pessoas ao erotismo é expor, exaltar e ainda por cima vitimizar países inteiros com a truculenta violência da guerra, defendida oficialmente pelos governos, e, acrescento eu, tão sanguinariamente representada em desenhos e games infantis atuais.Prazer é divino. Guerra é infernal.

Mas tudo bem. Alzira respondeu muito bem aos invejosos, quando finalmente assumiu e teve a coragem de declarar, com segurança, à Juvenal: "Eu gosto de me sentir desejada, eu no poste e eles lá, na platéia." Uma ótima maneira de pelo menos tentar mostrar aos teleguiados que a profissão de dançarina "exótica" (engloba-se aí strip-teasers) não necessariamente tem que ser vinculada à profissão de prostituta. Quantas atrizes famosas não estampam revistas com seus corpos nus, para o deleite masculino dos Juvenais de plantão? Só corrijo uma coisinha. Isso de ter que dançar pra se sentir desejada vale mais pra gente feia, porque a Flávia Alessandra, cá pra nós, basta ficar parada, com aquela beleza e sorriso que já enlouquece os cuecas. Fala sério!

"SOU O HOMEM MAIS FELIZ DO MUNDO" - BERNADINHO
E já que falei de guerra e prazer, acabo meu longo post elogiando o trio Bernadinho mais o tal do Carlão. Todos seriam os homens mais felizes do mundo - como Bernardinho recitou quando acordou ao lado de seus amores - se conseguissem dar vazão a seus verdadeiros desejos, sem limites e mãos invisíveis e intrometidas a lhes privar do amor universal. Não é melhor amar do que agredir?

Pena que não rolou o beijo no casório pra chocar os caretas do Brasil. Mas algo me diz que se fosse só um estalinho, não iria ter tanta polêmica assim. O assunto foi muito bem abordado e o carisma de Bernardo Mendonça ajudou brilhantemente a humanizar os homo e bissexuais tão estereotipados e mal julgados por aí. Parabéns Aguinaldo, Thiago e Wolf Maya.