quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Juliana e o coelho (conto)

Juliana era casada há cinco anos, mas se sentia sozinha. Maurício viajava muito a trabalho. Então ela resolveu que merecia um vibrador. Ao ver um episódio do seriado Sex and the city, decidiu: queria o tal do rabitt (coelho em inglês), usado pela Charlotte.

E não é que ele era mesmo supimpa? Fazia serviço duplo, atacava em todas as frentes. E assim Juliana se refestelava todas as noites em que Maurício estava fora. Mas aquele negócio era tão bom que ela passou a usá-lo inclusive nos dias em que dormiria com o marido. E quando ele chegava em casa, doido para matar a saudade da esposa, recebia um bando de desculpas da mulher já saciada. Um dia era dor de cabeça, no outro cansaço... Até inventar que estava naqueles dias, Juliana inventou. Tudo para fugir do sexo com o marido. Ela era fiel. O problema é que agora sua fidelidade se voltava para o tal coelhinho.

Maurício não sabia mais o que fazer. Já estava subindo pelas paredes. Chegou até a desconfiar que a mulher tinha um amante. E foi por isso que resolveu chegar mais cedo naquela quarta-feira. Pé-ante-pé, ele entrou pela sala e, ao chegar no corredor, notou a porta do quarto fechada. Tascou o olho na fechadura e não acreditou quando finalmente desvendou o segredo de Juliana. Ela o traía com o coelho. “Ela me paga!”, pensou, enraivecido.

Um mês se passou, e Maurício teve que viajar para os Estados Unidos à trabalho. Na volta ao lar, trazia uma novidade na bagagem. E foi em cima da cama, de onde Juliana reclamava de sua usual enxaqueca, que Maurício abriu o presente. De dentro de uma caixinha, ele tirou um pedaço de plástico colorido, soprou dentro dele, e pouco a pouco ele cresceu, até ficar do tamanho de Juliana. Maurício então se deitou ao lado da boneca, e estava prestes a abracá-la, quando Juliana soltou um berro: _ Você não vai fazer com ela o que eu estou pensando, vai? _ Se eu não posso fazer com a minha mulher, eu tenho que dar um jeito, você não acha? Juliana ficou desesperada. _ Não acredito numa coisa dessas, Maurício! Não acredito! _ É muito simples, Juliana. Basta você acabar com essa greve que eu rasgo a boneca.

Juliana não titubeou e se jogou nos braços de Maurício com paixão. Num minuto, a dor de cabeça foi embora. E o reencontro amoroso lembrou até aquelas transas de início de namoro, de tão apaixonado que foi. Quando tudo acabou, ainda em estado de êxtase, Juliana cobrou: _ E a boneca? Não vai rasgá-la? _Claro meu amor, farei isso já.

E assim, com a boneca em pedaços e o orgulho reestabelecido, Juliana finalmente pôde dormir em paz. Mas Maurício ainda não estava com sono. E tinha uma providência muito importante a tomar. Levantou-se da cama em silêncio e correu para o armário da mulher. Bem ali onde ela havia escondido o coelho mais cedo. Pegou aquele “bicho” com raiva e o levou até o tanque da cozinha. Depois sacou a caixa de fósforos do bolso e tacou fogo no troço. Agora sim, ele poderia dormir feliz.

No dia seguinte, Juliana não comentou nada, mas ele percebeu que ela estava estranha. Ela não sabia o que pensar. “Será que Maurício tinha descoberto seu segredo? Mas então por que ele não comentara nada? Então quem haveria de ter sumido com meu coelho?” Juliana estava agoniadíssima, mas fazia a maior força do mundo para não demonstrar.

Na hora de dormir, Maurício virou para o lado e nem sequer ensaiou procurar o carinho da esposa. E foi assim durante um mês inteiro. Juliana não estava entendendo nada. “Será que ele tem outra? Será que estou gorda? Por que ele não me procura mais?” E num desses dias de incertezas, Maurício chegou do trabalho feliz da vida. E já vestindo o pijama, repetiu o ritual daquele dia fatídico. Pousou a caixinha na cama, tirou o plástico lá de dentro e rapidamente inflou a boneca. Depois, fez com ela aquilo que não fazia com a mulher há um mês e, quando acabou, se virou para o lado e dormiu como um anjo. Juliana não deu um só pio. E ainda teve que dividir a cama com a boneca!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Crise dos 30 (artigo)

Se no início eu reclamava verborragicamente da frieza e catatonia da internet, como vocês podem recordar nos textos Você já chateou hoje?, Amizades Virtuais, Geração MSN e Perguntas sem Resposta, hoje em dia, posso dizer que estou me divertindo e tirando bastante proveito desse ambiente cibernético. Afinal, ter visão crítica é imprenscindível, mas se tem uma coisa que odeio é gente que só reclama da vida e do mundo e não faz nada para se ajustar a ele. Não estamos vivendo em meio a blogosfera, msns e orkuts da vida? Então temos que jogar a ignorância tecnológica de lado e aprender a nos aproveitar do sistema! É por isso que digo: só tenho a agradecer a internet. Além de ter me trazido meu marido (sim, o conheci pela Internet há 12 anos!!), graças às ondas virtuais, tenho lido coisa à beça. E tido acesso a autores maravilhosos. Alguns nem sequer lançaram livros, como a Bruna Demaison, que, até onde eu sei, participou apenas de uma coletânea de textos do site Os Tribuineiros, site aliás que me fez ficar fã ainda dos escritores Felipe Moura Brasil, o Pim, Carlos Andreazza, o C.A, e, mas recentemente, José Guilherme Vereza. Mas, no momento, estou aqui para pegar carona no delicioso texto da Bruna, sobre a crise dos trinta.

Num texto muito bem escrito, como sempre, Bruna destila sua inteligência, acidez e comicidade reclamando que, ao contrário do que se apregoa por aí, fez trinta anos e não teve crise nenhuma. O problema é que ela acabou de fazer trinta anos. Para mim, por exemplo, foi uma das melhores fases da minha vida, pois, cheia de esperança, eu estava me casando com o homem da minha vida e trabalhando no emprego que eu amava. Quatro anos depois, me decepcionei com o emprego e, mesmo ainda amando a empresa, a maioria das pessoas e o trabalho, tive que botar os pés no chão e ver que eu não só não tinha futuro ali, como não tinha presente. Só pensava em trabalho. Até nos finais de semana (muitas vezes trabalhando), eu não tinha outro assunto: era trabalho, trabalho, trabalho. Também, quem manda trabalhar na TV Globo! Além de você ficar exausta de ralar feito condenada para promover a boa imagem dos atores que ganham rios de dinheiro a mais que você, nos raros intervalos em que você está fora daquele mundinho de egos você ainda tem que encarar o batalhão de perguntas dos amigos sobre quem? Sobre os atores endinheirados, claro! Ninguém merece! Mas, deixando as brincadeiras de lado, sofri bastante ao tomar a decisão de deixar de lado um emprego que eu amava, para me dedicar a outros projetos. Nossa! Agora falei igualzinho às atrizes desempregadas quando são perguntadas sobre seus próximos trabalhos. Mas o que interessa é que aí eu passei por uma crise sim. Sofri. Mas foi um sofrimento voluntário e pensado. Sabia o tempo todo que era uma dor necessária, precisava encará-la para realinhar e melhorar minha vida.

Da mesma forma no casamento. A vida de quatro anos de casada, depois de sete de namoro, não é a mesma de quem está em lua de mel. Chega um momento que você se questiona se quer aturar aquilo tudo, se vale a pena continuar abrindo mão de tanta coisa... Afinal, conviver é difícil pra caramba e só dá certo se as pessoas souberem ceder muito e negociar, o tempo todo. Mas é aí que vem a melhor parte. Quando você tem uma crise dessas e se questiona, tanto sobre o casamento, como sobre o trabalho, você chega a uma conclusão: se eu decidi assim, então tenho que enfiar o pé no acelerador e ir com tudo, tenho que dar valor ao que tenho, investir nisso e aproveitar ao máximo a experiência. E é aí que você passa por uma segunda lua de mel, seja ela no casamento, seja no mesmo trabalho, num novo, seja ela uma lua de mel com você mesma, quando olha para trás e pensa: “caramba, quanta coisa aprendi, quantas ferramentas eu tenho para melhorar a minha vida.”

Por isso é que digo à Bruna e às outras recém-trintonas que quiserem ouvir. O grande "X" da questão é que antes dos trinta você vai vivendo a vida se deixando levar pela maré, meio sem pensar. Sem direcionar suas energias e dar o devido valor ao que você tem. Então chega um momento em que você se dá conta de que tem menos tempo fértil para poder gerar um filho, menos condições físicas para abusar dos decotes, minissaias, blusas sem sutiã, menos tempo para ser aceita numa profissão nova, afinal, assim como as rugas e a gravidade, o mercado de trabalho é cruel! Enfim, tudo isso faz você reavaliar como você está usando o seu tempo hoje. E te faz repriorizar todos os minutos de sua vida. Para fechar, lembro apenas de um livro que li, quando ainda era neurótica por regimes: “Mulheres francesas não engordam”, de Mireille Guiliano. Não o relembro porque ele me ensinou a emagrecer. Na verdade, nem li o livro todo, confesso. Mesmo assim, ele me ensinou uma coisa muito importante, ao dizer que as mulheres francesas não engordam porque priorizam a qualidade dos alimentos. Elas fazem uso de receitas e ingredientes especiais, comem um pouco de tudo, e, principalmente, saboreiam cada centímetro do alimento que estiverem degustando. Eu fiz o teste. E não é que quando você come com prazer e presta atenção no que está mastigando, acaba se saciando com muito menos? Pois é exatamente isso que eu venho fazendo com minha vida. E é exatamente isso que desejo a todas vocês. Até logo e bon appétit!