quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Crise dos 30 (artigo)

Se no início eu reclamava verborragicamente da frieza e catatonia da internet, como vocês podem recordar nos textos Você já chateou hoje?, Amizades Virtuais, Geração MSN e Perguntas sem Resposta, hoje em dia, posso dizer que estou me divertindo e tirando bastante proveito desse ambiente cibernético. Afinal, ter visão crítica é imprenscindível, mas se tem uma coisa que odeio é gente que só reclama da vida e do mundo e não faz nada para se ajustar a ele. Não estamos vivendo em meio a blogosfera, msns e orkuts da vida? Então temos que jogar a ignorância tecnológica de lado e aprender a nos aproveitar do sistema! É por isso que digo: só tenho a agradecer a internet. Além de ter me trazido meu marido (sim, o conheci pela Internet há 12 anos!!), graças às ondas virtuais, tenho lido coisa à beça. E tido acesso a autores maravilhosos. Alguns nem sequer lançaram livros, como a Bruna Demaison, que, até onde eu sei, participou apenas de uma coletânea de textos do site Os Tribuineiros, site aliás que me fez ficar fã ainda dos escritores Felipe Moura Brasil, o Pim, Carlos Andreazza, o C.A, e, mas recentemente, José Guilherme Vereza. Mas, no momento, estou aqui para pegar carona no delicioso texto da Bruna, sobre a crise dos trinta.

Num texto muito bem escrito, como sempre, Bruna destila sua inteligência, acidez e comicidade reclamando que, ao contrário do que se apregoa por aí, fez trinta anos e não teve crise nenhuma. O problema é que ela acabou de fazer trinta anos. Para mim, por exemplo, foi uma das melhores fases da minha vida, pois, cheia de esperança, eu estava me casando com o homem da minha vida e trabalhando no emprego que eu amava. Quatro anos depois, me decepcionei com o emprego e, mesmo ainda amando a empresa, a maioria das pessoas e o trabalho, tive que botar os pés no chão e ver que eu não só não tinha futuro ali, como não tinha presente. Só pensava em trabalho. Até nos finais de semana (muitas vezes trabalhando), eu não tinha outro assunto: era trabalho, trabalho, trabalho. Também, quem manda trabalhar na TV Globo! Além de você ficar exausta de ralar feito condenada para promover a boa imagem dos atores que ganham rios de dinheiro a mais que você, nos raros intervalos em que você está fora daquele mundinho de egos você ainda tem que encarar o batalhão de perguntas dos amigos sobre quem? Sobre os atores endinheirados, claro! Ninguém merece! Mas, deixando as brincadeiras de lado, sofri bastante ao tomar a decisão de deixar de lado um emprego que eu amava, para me dedicar a outros projetos. Nossa! Agora falei igualzinho às atrizes desempregadas quando são perguntadas sobre seus próximos trabalhos. Mas o que interessa é que aí eu passei por uma crise sim. Sofri. Mas foi um sofrimento voluntário e pensado. Sabia o tempo todo que era uma dor necessária, precisava encará-la para realinhar e melhorar minha vida.

Da mesma forma no casamento. A vida de quatro anos de casada, depois de sete de namoro, não é a mesma de quem está em lua de mel. Chega um momento que você se questiona se quer aturar aquilo tudo, se vale a pena continuar abrindo mão de tanta coisa... Afinal, conviver é difícil pra caramba e só dá certo se as pessoas souberem ceder muito e negociar, o tempo todo. Mas é aí que vem a melhor parte. Quando você tem uma crise dessas e se questiona, tanto sobre o casamento, como sobre o trabalho, você chega a uma conclusão: se eu decidi assim, então tenho que enfiar o pé no acelerador e ir com tudo, tenho que dar valor ao que tenho, investir nisso e aproveitar ao máximo a experiência. E é aí que você passa por uma segunda lua de mel, seja ela no casamento, seja no mesmo trabalho, num novo, seja ela uma lua de mel com você mesma, quando olha para trás e pensa: “caramba, quanta coisa aprendi, quantas ferramentas eu tenho para melhorar a minha vida.”

Por isso é que digo à Bruna e às outras recém-trintonas que quiserem ouvir. O grande "X" da questão é que antes dos trinta você vai vivendo a vida se deixando levar pela maré, meio sem pensar. Sem direcionar suas energias e dar o devido valor ao que você tem. Então chega um momento em que você se dá conta de que tem menos tempo fértil para poder gerar um filho, menos condições físicas para abusar dos decotes, minissaias, blusas sem sutiã, menos tempo para ser aceita numa profissão nova, afinal, assim como as rugas e a gravidade, o mercado de trabalho é cruel! Enfim, tudo isso faz você reavaliar como você está usando o seu tempo hoje. E te faz repriorizar todos os minutos de sua vida. Para fechar, lembro apenas de um livro que li, quando ainda era neurótica por regimes: “Mulheres francesas não engordam”, de Mireille Guiliano. Não o relembro porque ele me ensinou a emagrecer. Na verdade, nem li o livro todo, confesso. Mesmo assim, ele me ensinou uma coisa muito importante, ao dizer que as mulheres francesas não engordam porque priorizam a qualidade dos alimentos. Elas fazem uso de receitas e ingredientes especiais, comem um pouco de tudo, e, principalmente, saboreiam cada centímetro do alimento que estiverem degustando. Eu fiz o teste. E não é que quando você come com prazer e presta atenção no que está mastigando, acaba se saciando com muito menos? Pois é exatamente isso que eu venho fazendo com minha vida. E é exatamente isso que desejo a todas vocês. Até logo e bon appétit!

5 comentários:

Fernando disse...

Sou testemunha da infância e da juventude de Mariana, pois a vi nascer e a amizade com seus pais foi muito longa. Em verdade, até hoje, embora nos vejamos com menor freqüência. Mas amizades sólidas não necessitam de contatos diários.
Mariana sempre foi uma menina muito meiga e carinhosa, mas de farta argumentação verbal, nunca se deixando levar pela conversa dos adultos quando o tema não era do seu agrado. Tinha opinião.
Era de se esperar que ela enveredasse pelo caminho das letras, pois sempre foi amiga da leitura e soube expressar suas idéias.
Os caminhos da vida nos separaram um pouco, não totalmente, mas a freqüência com que nos vemos ou falamos diminuiu muito e agora eu me deparo, na internet, com uma Mariana mulher, madura, escrevendo sobre as suas experiências de vida. Gostei muito do que vi. Continue, Mariana! Estou certo de que estamos diante de uma grande escritora. Quando veremos o seu primeiro livro publicado?
Beijos,

Fernando Teixeira

Mariana Valle disse...

Fernando,

Obrigada pelas belas palavras! É muito bom poder contar com a amizade da sua família. Ainda me sinto sua filha número 3, lembra? Sinto muita saudade daquela época.

Meu primeiro livro está saindo do forno. Assim que souber o dia do lançamento, te aviso!

Beijão,
Mari

NO BUTECO disse...

Meu testemunho sobre a Mariana é de remotos tempos! De juventude claro e de aniversários que ela faz (exatamente um dia antes do meu).

Das coisas em comum, o total e quase insana loucura por música, cinema e textos que trocávamos (arte em geral), mas não podemos nunca nos esquecer que era (ou é) uma forma de nos humanizarmos. De mostrarmos mesmo que sem blablabla, como somos e como nos interagimos. Que dentro da gente existe um microcosmo da vida que roda lá fora. Que somos cria do aprendizado que a personalidade de todo o mundo nos trazia. Não que isso seja desabonador. Apenas tentamos extrair o melhor de tudo.

E é por essas e outras que sempre que leio outro texto da Mariana fico feliz. A distância que a vida nos levou foi capaz de mostrar o quanto estamos ativos. E com uma amizade que resiste ao tempo.

Bjs e felicidades

Anônimo disse...

Oi, Mari!
Adorei o texto! E a comparação com o apetite das francesas... Eu tb li, na época, uma reportagem bem interessante sobre este livro.

Lendo o comment do Fernando lembrei que nós duas tb sempre tivemos em comum essa quedinha pelas letras, né? E não por acaso, acabamos nos tornando redatoras.

E agora, parceiras musicais. rs Como anda aquele projeto de voz nas suas composições, hein? Agora que voltou de férias, podemos tocar isso, se quiser.

Beijinhos e sucesso!
Dany Valle

Anônimo disse...

gostei, perfeito!

blogdarua9.blogspot.com/