segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O verdadeiro amor cristão (artigo)

Sabe aqueles e-mails que os amigos nos encaminham, com arquivos de powerpoint anexados, com mensagens bonitas, músicas bregas e imagens óbvias, que a gente só consegue ler depois de ficar clicando na setinha do teclado? Sim, eu leio esses slides! Quando nos dedicamos a ler como esporte, encontramos coisas boas até nessas irritantes correntes que nos caem no colo insistentemente a mando dos amigos. Pois bem. Outro dia, depois de clicar fréneticas vezes na setinha para acelerar a chegada das palavras que insistem em pipocar na tela com a maior calma do mundo, consegui me emocionar ao chegar ao fim de uma dessas mensagens, entitulada “O Filho”. Mas a sedução barata me fisgou por pouco tempo. E, depois de contar o que dizia a tal mensagem, lhe explicarei o porquê do meu desencantamento. Ou seria lucidez? Bom, é melhor narrar logo os detalhes dessa história para que você possa julgar por conta própria.

A tal mensagem “O Filho”, resumidamente, contava uma história bonitinha e emocionante, para convencer que quem ama verdadeiramente o próprio filho é um abençoado e, no caso dessa mensagem, o rapaz que amava o filho alheio era tão abençoado que ficava com uma baita herança material. Depois do final surpreendente, a mensagem ainda pega carona na histórinha para pregar que assim como esse caso, Deus, ou Jesus, sei lá, nos ama a todos, porque somos seus filhos. Mas então eu explico porque o conceito de religiosidade aí não me desceu muito bem. Tudo por causa do comentário da pessoa que me enviou essa mensagem sobre sua nora. Um comentário que me provou que nem sempre as pessoas sabem ler a verdadeira mensagem cristã, e é exatamente por isso que eu brigo tanto com a religião e a fé alheia.

Tenho certeza que a tal fulana se emocionou bastante ao ler a história do powerpoint e lhe sou muito grata por ela ter me enviado a interessante mensagem, mas levei um grande susto ao ouvi-la falar assim: “Vou ser muito sincera. Você sabe por que eu gosto da minha nora? Porque ela faz o meu filho feliz.” Aquilo ficou na minha cabeça, mas eu não falei nada, afinal, não posso me meter no sentimento alheio. Mas, a julgar pelo que já aconteceu com o coração dessa sogra a respeito de outra mulher que foi sua nora durante longos 15 anos, posso afirmar com certeza: ela realmente estava sendo sincera. Só ama pessoas que convivem com ela tão intimamente por tanto tempo enquanto aquelas pessoas estiverem lhe fazendo o favor de tratarem direito seus bens mais preciosos: os filhos. Se por acaso, por obra do destino, algo acontecer e a nora não puder mais corresponder ao amor de seu filho, imediatamente vira vilã, persona non grata. Então é aí que entra minha humilde tese. O verdadeiro cristão não é aquele que ama o próprio filho. Isso é fácil. Cristão mesmo é amar, desinteressadamente, o filho alheio, e amá-lo pelo que ele é. Sabendo reconhecer nele as qualidades até quando, eventualmente, sem querer, ele tenha nos feito mal. Isso sim é amor cristão. O resto é hipocrisia.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

No elevador (conto erótico)

Era um belo dia de verão. Daqueles que só a cidade maravilhosa sabe produzir. Com o corpo fervendo sob o comportado tailleur de marca, ardia no peito de Daniela uma vontade irresistível de andar nua. Mas, embora sonhasse com uma praia, ela estava indo para o trabalho. E, pra variar, atrasada. Por isso, ao entrar no elevador, mirou-se no espelho a fim de dar os últimos retoques na aparência. Como acontece com todas as mulheres quando se olham no tal vidrinho refletor, Daniela esqueceu do mundo à sua volta. Aliás, esqueceu até do motivo que a tinha levado ao elevador: ir à garagem pegar o carro. Por isso, Dani não apertou sequer um botão, mas mesmo assim, o elevador pôs-se a descer. Parou no quarto andar.

Gabriel, o vizinho boa vida que insiste em mostrar os músculos peitorais e abdominais muito bem esculpidos no seu traje informal, short e chinelo, entrou e deu um sorriso acompanhado de um “bom-dia”. Ela, com tal visão do paraíso, lembrou-se do inferno de dia que a esperava: muito trabalho, broncas do chefe, aquela reunião maçante com o cliente mala... Melhor nem lembrar! Daniela então esticou o braço para apertar o 3G, mas levou um baita susto ao ser interrompida por aqueles músculos morenos. Gabriel apertava o botão de emergência, aquele que a gente sempre sonhou apertar um dia para ver como é.

Esta era a sua oportunidade. Daniela sempre suspirou ao ver aquele vizinho e sempre teve curiosidade em saber como seria transar no elevador. Ela só não podia imaginar que iria unir dois desejos num só: traçar o vizinho e ainda por cima no elevador!

Fingindo inocência, afinal de contas um fingimento de vez em quando não faz mal a ninguém, ela lançou um "O que houve?". O vizinho respondeu com um beijo tão ardente que Daniela tinha a impressão de estar queimando nos caldeirões do inferno, não fosse aquele beijo o ato mais divino que experimentara.

A essa altura, já não era mais possível fingir surpresa ou consternação e ela deslizou as mãos por aquela barriga de tanquinho e parou com os dedos na borda superior do short. Foi beijando centímetro por centímetro daquela pele, desde o pescoço até o short, que rapidamente foi tirado com as afoitas mãos de Daniela. O membro de Gabriel estava totalmente ereto e ela não via a hora de senti-lo dentro de si. O vizinho, por sua vez, resolveu despi-la com a pressa de um faminto que come um banquete após dias de jejum.

Os dois corpos escorregaram para o chão, ele por baixo, ela por cima, e assim, encaixados, dançaram num ritmo que começou como o balanço de um barco flutuando por ondas calmas. Pouco a pouco, a maré foi se tornando violenta e, num instante, já lembrava um mar revolto pela tempestade. As ondas iam e vinham de tal maneira intensas que Daniela estava prestes a explodir de prazer num grito.

- AAAAAHHHHHHH!
- Calma - responde o vizinho - apertei sem querer o botão de emergência, mas consegui matar a barata. Viu? Estamos são e salvos, e assim você não vai se atrasar para o trabalho. Tenha um bom dia!

Daniela demorou alguns segundos para se recompor e, quando conseguiu encarar a barata morta no chão, uma lágrima escorreu lentamente pelo seu rosto. Ela não chorava a morte do bicho e sim porque morria ali talvez a única oportunidade de realizar seu desejo.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Final feliz (conto)

João já havia sofrido muito por amor. Principalmente pelos excessos verbais de suas companhias. E olha que ele não possuía a audição de um dos ouvidos. Mas não tinha jeito. Por que as mulheres insistiam em abrir a matraca? Por que perdiam tanto tempo falando asneiras?

Era sempre assim. No começo do relacionamento, elas eram bonitas, charmosas, misteriosas, sedutoras. Daqui a pouco, quando se sentiam mais à vontade, tornavam-se previsíveis, inseguras, sufocantes, fofoqueiras, tagarelas. E quando abriam a boca para falar de assuntos como fidelidade, política, religião e futebol eram verdadeiras antas. O tesão morria na hora.

Por isso, João estava tão empolgado com Teresa. Já namoravam há mais de um mês e ela nunca havia tocado em assuntos proibidos. Aliás, ela não falava nada. Sabia que falar seria perda de tempo quando se tinha tanto a aprender apenas ouvindo o amado. "Que mulher sábia", pensava João.

Porém, chegou o dia em que ele cansou. Aquela história de sempre ter alguém concordando com tudo já estava lhe dando nos nervos. E assim, quanto mais Teresa ficava muda, menos tesão ele sentia. Agora, ao invés de dormir ao seu lado na cama, João relegava o sofá para Teresa, que aceitava calada. Ela também não era mais a mesma: vivia deitada ali. Não saía nem pra comer.

O descaso de João já era tão grande, que quando ele ia assistir a TV no sofá, nem se importava de colocar o prato do jantar sobre os quadris de Teresa. E foi numa dessas noites que se deu o desastre: João deixou cair a faca, que caiu sob Teresa, rasgando-lhe a pele.

E, enquanto o corpo de Teresa se reduzia a plástico rasgado, o ar que por tantos dias inflou a boneca de João acertou o ouvido dele com uma fúria descomunal. Resultado: João perdeu a audição do ouvido que ainda era sadio. Bom, pelo menos agora ele poderia voltar a namorar as tagarelas em paz.

ATENÇÃO: Esta história é um quase-plágio de "Como susbstituir amores", de minha amiga Barbara Duffles. Tem isso e muito mais no blog dela. Vale a visita.