segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Final feliz (conto)

João já havia sofrido muito por amor. Principalmente pelos excessos verbais de suas companhias. E olha que ele não possuía a audição de um dos ouvidos. Mas não tinha jeito. Por que as mulheres insistiam em abrir a matraca? Por que perdiam tanto tempo falando asneiras?

Era sempre assim. No começo do relacionamento, elas eram bonitas, charmosas, misteriosas, sedutoras. Daqui a pouco, quando se sentiam mais à vontade, tornavam-se previsíveis, inseguras, sufocantes, fofoqueiras, tagarelas. E quando abriam a boca para falar de assuntos como fidelidade, política, religião e futebol eram verdadeiras antas. O tesão morria na hora.

Por isso, João estava tão empolgado com Teresa. Já namoravam há mais de um mês e ela nunca havia tocado em assuntos proibidos. Aliás, ela não falava nada. Sabia que falar seria perda de tempo quando se tinha tanto a aprender apenas ouvindo o amado. "Que mulher sábia", pensava João.

Porém, chegou o dia em que ele cansou. Aquela história de sempre ter alguém concordando com tudo já estava lhe dando nos nervos. E assim, quanto mais Teresa ficava muda, menos tesão ele sentia. Agora, ao invés de dormir ao seu lado na cama, João relegava o sofá para Teresa, que aceitava calada. Ela também não era mais a mesma: vivia deitada ali. Não saía nem pra comer.

O descaso de João já era tão grande, que quando ele ia assistir a TV no sofá, nem se importava de colocar o prato do jantar sobre os quadris de Teresa. E foi numa dessas noites que se deu o desastre: João deixou cair a faca, que caiu sob Teresa, rasgando-lhe a pele.

E, enquanto o corpo de Teresa se reduzia a plástico rasgado, o ar que por tantos dias inflou a boneca de João acertou o ouvido dele com uma fúria descomunal. Resultado: João perdeu a audição do ouvido que ainda era sadio. Bom, pelo menos agora ele poderia voltar a namorar as tagarelas em paz.

ATENÇÃO: Esta história é um quase-plágio de "Como susbstituir amores", de minha amiga Barbara Duffles. Tem isso e muito mais no blog dela. Vale a visita.

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