sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Domingo (artigo)

Hoje eu quero emburrecer. Não quero filme cabeça, não quero ler jornal. Quero no máximo rir com um best-seller, passar o tempo com uma HQ infantil. Aliás, um filme adolescente, daqueles idiotas que passam na Disney Channel, cai muito bem, obrigada. Comédia romântica daquelas que a gente já sabe o final, melhor ainda. Revista com assunto de mulherzinha, seriados americanos que desvendam assassinatos... Amo muito tudo isso em dias como hoje.

O que também não pode faltar é uma comida trash. Uma Pringles Páprica com H20, uma barra de chocolate, pão de queijo, pizza... Não preciso ser delicada e correta com meu estômago, só por hoje. Pensar nas calorias e nos pneuzinhos? Hoje não, pelo amor de Deus! Quero ficar descabelada, de camisola e, debaixo das cobertas, pegar o telefone e fofocar com as amigas. Falar mal da chefe, do governo, da sogra, do marido, do vizinho. Vou perder meus preciosos minutos de lazer tramando pequenas vinganças destinadas a cada ser humano que já me fez mal um dia. Quero meter o pau em todo mundo!

Sei que amanhã vou olhar pra trás, desistir de meus planos maquiavélicos e brigar comigo mesma, dizendo: “vingança não leva a nada, só traz energia ruim e nos iguala ao ser que nos fez mal. Perdoar sim é divino”. Também sei que vou concluir que perdi uma ótima oportunidade de ler um livro bom, ver um filme interessante, ler uma revista edificante, assistir a uma peça, ir a uma exposição. E tenho certeza de que vou sentir uma baita dor de estômago! “Por que comi tanta besteira ontem, meu Deus do céu?”

Quer saber? Não vou mais me sentir culpada. Afinal, se eu não conhecesse os males da comida trash, como saberia dar valor à alimentação natural? Se eu assistisse filmes cabeças todos os dias, não acabaria perdendo o encantamento pela genialidade deles? Se eu passeasse na rua todo fim de semana, como me surpreenderia com o movimento lá fora num dia de domingo?

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Perguntas sem resposta - sobre comunicação online (crônica)

Ela fica esperando resposta. Sempre. Manda e-mails e olha compulsivamente pra caixa de entrada pra ver se alguém respondeu. E quando tecla no msn, fica parada e inativa, esperando o interlocutor teclar de volta. Isso quando ela não manda outra mensagem, ou uma simples interrogação, para reafirmar a pergunta que tinha acabado de despejar na janelinha piscante! Como se a pessoa do outro lado não fosse respondê-la. Ela não entende como a pessoa pode ficar online, sem estar disponível. Ainda não se acostumou com essa estranha noção de tempo que permeia as comunicações virtuais, seja via e-mail, msn, orkut ou comentários de posts.

Por exemplo: qual o tempo sensato para se responder um e-mail, de forma a não correr o risco de parecer que você não deu importância à pergunta do amigo? Como é que se explica que às vezes você quer distância do computador? Que é necessário ficar pelo menos uns três dias sem acessar nada? Por que você é obrigado a explicar que viajou, ou que estava com problemas no computador, ou que estava em um local sem internet, toda vez que responde com um atraso de mais de dois dias? Ela não entende essa obrigação implícita no inconsciente coletivo atual dos conectados. Essa mania de ficar online até nos finais de semana, disponível para mensagens e ligações de celulares de trabalho inclusive, ou para receber avisos e convites que poderiam muito bem chegar com um breve telefonema.

E quando ela relata novos fatos ou avança no papo, enviando mais de um e-mail para mesma pessoa? Como no caso daquelas mensagens coletivas em que se conversa, cada um respondendo se vai ou não no churrasco ou no reencontro, festa, reunião de trabalho. Quando um dos interlocutores resolve ligar para ela pra perguntar justamente sobre algum detalhe daquilo que ela explicou no último e-mail, ela fica perdidinha. E pergunta: você leu até que mensagem minha: a primeira, a segunda ou a já chegou na terceira? Porque, veja bem: se a obrigaram a se render ao esquema internético, ela não quer desperdiçar o tempo que lhe sobra offline reexplicando aquilo que já demorou tanto tempo para teclar via online, ora bolas!

E aquele amigo dela que só fica no status offline, mas nunca deixa de papear com ela via msn? Alooou! Pra quê existe um status offline? Se a pessoa tá off não deveria estar sequer logada, isso não é óbvio? Ela também não compreende porque as pessoas gastam tanta energia, deixando seus computadores ligados 24 horas, online 24 horas nos espaços comunicativos da web, se, na verdade, não estão o dia todo em frente à telinha. Quando a vida real lhe chama, ela desliga o computador. Ela odeia aquele barulho que o estabilizador faz quando está ligado.

Ela prefere o telefone, o chat (em português é papo) ao vivo. Mas já se rendeu, ao perceber que só conseguiria marcar estes encontros por meio do computador. E, agora, toda vez que liga pra alguém, acha que está entrando na privacidade da pessoa. Se telefona para a casa do sujeito então, para o aparelho fixo, já começa a ligação pedindo desculpas.

Perdão, gente, mas acho que tenho que pedir desculpas agora por fazer vocês ficarem tanto tempo em frente a telinha, lendo minhas reclamações. Para quem ainda não sacou, esse "ela" sou eu mesma. Desliga o computador, vai! E se quiser conversar comigo, por favor, me liga que eu tô offline.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Melhor do que ontem (artigo)

Nunca assisti o Brazil’s Next Top Model, mas como sou telespectadora da Sony, frequentemente sou bombardeada pelas chamadas para esse programa durante os intervalos comerciais. Fui ao banheiro durante a exibição de uma dessas propagandas e de lá ouvi Fernanda Motta, a apresentadora, falando numa voz de perua, que me soou extremamente fútil: “Para ser modelo, não basta ser boa, tem que ser a melhor.” E não é que esse caso me lembrou o depoimento de uma conhecida atriz global?

Trabalhei durante 5 anos e meio na TV Globo e, apesar de preferir não citar nomes, preciso relembrar um evento específico. Uma talentosa atriz da casa, jovem, linda e bem-sucedida, é uma das mulheres mais antipáticas e pedantes que eu já vi na vida. Diz-se, à boca pequena, que ela até já conseguiu ultrapassar uma famosa veterana no quesito estrelice. Pois bem. Assistindo a entrevista da dita-cuja num programa de entretenimento, me saltou aos ouvidos o comentário que ela fez sobre sua infância com o pai. “Sempre que eu ia participar de competições, meu pai me dizia: _Filha, não importa apenas competir, você tem que ser a melhor.” Foi então que compreendi. Está explicado o porquê da bela subir no salto e sustentar a postura de quem se acha melhor do que os “restos mortais”.

Mesmo sabendo que o mundo artístico é um celeiro de egos inflados, aproveito a ocasião para afirmar: infelizmente, esta mentalidade não reina apenas no mundo da moda e das artes. O instinto de competição do ser humano é muito estranho. Em todos os ambientes de trabalho por onde passei, e acredito que isso não aconteça apenas comigo, pude notar uma cambada de gente invejosa, competitiva, fazendo questão de se sobressair à custa da diminuição ou ridicularização do outro.

O que me faz lembrar do comentário do meu pai sobre meu último post, Decrescimento é a palavra. Preocupado como só os pais e as mães sabem ser, ele disse que eu queria mudar o sistema, ao sugerir que todos nós trabalhássemos menos. Afirmou ainda que ele nunca trabalhou por obrigação e sim por prazer, por isso as muitas horas de labuta não lhe causavam sofrimento.

Ok, pai. Concordo contigo. Eu sou completamente workaholic e, como trabalho com o que gosto, tenho que me policiar de todas as maneiras para não esquecer que tenho marido, família, amigos e um mundo fora do escritório. Até comer e dormir direito fica difícil diante do meu entusiasmo por fazer cada vez mais e melhor o meu trabalho. E é exatamente nesse ponto que eu queria chegar. Quero sempre fazer mais e melhor o meu trabalho. Não dá para direcionar minha atenção e esforço para ser melhor do que os outros. Só podemos - e devemos, acredito eu - ser melhores do que nós mesmos. Até porque não podemos nos comparar a ninguém. Cada pessoa é única. Cada um tem os seus pontos fortes e fracos a serem trabalhados.

Por isso, repito: só posso ser melhor do que fui ontem. O resto é consequência. Se eu focar minha energia no meu desenvolvimento e progresso constantes, aí sim posso me sobressair em relação aos outros. E, mesmo assim, isso nem sempre acontece, vide o medalhista fenômeno Michael Phelps. Por mais evoluídos que os outros nadadores sejam, é quase impossível derrotar o “anfíbio” americano. O melhor que os concorrentes têm a fazer é aceitar o fato de que serão coadjuvantes, e, no máximo, ficarem de olho no comportamento do cara, para entender o que o torna tão imbatível.

Aliás, já que tocamos no assunto, concluo esse texto explicando quem me ensinou a pensar assim. Quando eu competia, principalmente naqueles inúmeros anos de natação irritantemente matutinas, era meu pai quem me aconselhava. “Filha, não interessa se você ganhou ou perdeu e sim se você fez o melhor que pode.” Então, pai, aproveito a oportunidade para falar, de todo o coração, sobre minha vida profissional: graças ao seu exemplo e conselhos, sempre dei o máximo de mim e, hoje, durmo com a consciência tranquila. E paz de espírito como essa definitivamente não tem preço! Obrigada pelos ensinamentos.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Decrescimento é a palavra (artigo)

Você conhece alguém que não esteja sempre com pressa durante a semana? Já reparou como o tempo parece ser cada vez mais escasso? Tenho ouvido muito o seguinte comentário de várias pessoas: “Ultimamente o tempo tem passado tão rápido. Parece que os dias voam!” Será que ninguém parou pra pensar que não é o tempo que passa mais rápido e sim as pessoas que estão correndo? Ninguém percebeu ainda que quem anda voando não são os dias e sim as pessoas? O problema é que os seres humanos não foram feitos para voar e sim para andar. Por isso, a grande incidência de quedas, falhas nas decolagens e estragos nos pousos. Afinal, o que acontece quando os homens-pássaros precisam parar abruptamente? É queda na certa!

Para quem não entendeu a metáfora, eu explico. O que acontece com o sujeito que trabalha compulsivamente durante horas a fio do dia, período em que é pressionado pelos colegas de trabalho, pelos clientes e pelos chefes, para entregar tudo bem-feito e no prazo? Já reparou como os prazos estão cada vez mais curtos e a quantidade de tarefas diárias cada vez maiores? “A única coisa que não aumenta é o salário”, você deve estar pensando. Pois bem. Quando esse sujeito chega em casa, demora para “desligar” do trabalho. “Será que ficou faltando alguma coisa? Será que o chefe gostou do meu relatório? Ai, meu Deus, tenho tanta coisa pra fazer amanhã!” São tantos os pensamentos rondando a cabeça do pobre-coitado que ele nem consegue saborear o jantar direito. Sequer repara no sorriso iluminado do filhinho ali ao lado, doido para brincar com o papai e a mamãe exaustos da lida.

E quando pinta um feriado ou férias, sem viagem? Será que eles sabem o que fazer no tempo livre? O que eu já ouvi de gente dizendo que não consegue ficar 30 dias de férias, porque não aguenta ficar muito tempo “sem fazer nada”, não tá no gibi! É impressionante! Parece que não ter nada pra fazer é um pecado. Aliás, a questão da culpa é outro fator importante. Por que as pessoas se orgulham tanto de dizer que estão atoladas de trabalho, “ralando muito”? Já reparou como a sociedade condena quem trabalha pouco? Quantas vezes você já não olhou torto pra alguém só porque ele não sofre tanto como você para ganhar dinheiro? “Ah, fulano não faz nada, só fica lá na cadeira de chefe dando bronca, ganhando o dinheiro que eu suo para conseguir para a empresa. Beltrana é uma fútil, dona de casa, não sabe o que é ter problemas na vida. Sicrano também, já nasceu rico. Fulaninho não conta, está aposentado.”

O que me motivou a escrever esse artigo foi a leitura de duas matérias muito interessantes da Revista Vida Simples, uma sobre culpa e outra sobre decrescimento sustentável. Esse nome estranho é uma tese, desenvolvida pelo economista e filósofo francês Serge Latouche (foto), que vem chocando o mundo ao criticar o crescimento econômico promovido pelos estados. Latouche defende com ardor uma suposta “descolonização” do nosso imaginário e uma mudança de comportamento mais ativa para salvar o planeta do esgotamento de recursos naturais. Em entrevista concedida a Igor Olszowski, ele alerta que a mensagem não é somente reduzir o excesso de consumo e os danos ecológicos, mas também reduzir a quantidade de trabalho. E a idéia não é trabalhar menos para ganhar mais e sim trabalhar menos para que todos possam trabalhar e viver melhor. “Assim, teremos mais tempo livre para gastar com coisas que realmente valem a pena. Escutar música, dançar, jogar, pensar ou mesmo não fazer nada”, afirma o pensador.

No entanto, ele alerta: “ao contrário disso, nós nos tornamos viciados no trabalho”. E é exatamente aí que entra a questão da culpa, tão bem aprofundada em outra matéria da Vida Simples, de autoria de Mariana Sgarioni. “A culpa é um sentimento que parte de alguém que transgrediu (ou acha que transgrediu) alguma norma, seja ela social, seja legal, moral, ética ou religiosa. É a violação de alguma regra que pode ou não ter causado dano a alguém. ...Ela nos faz perder o sono, traz dor no peito, nó na garganta...”

Ainda não entendeu a ligação das duas matérias? Elementar, caro leitor! A tal da culpa faz as pessoas trabalharem feito burros de carga e viverem correndo como se o mundo fosse acabar amanhã. Afinal, elas têm medo do desemprego, medo de ficar pra trás, receio de serem taxadas como desatualizadas, vagabundas ou boa-vidas. Elas se martirizam pelo sentimento de culpa por não ter dinheiro para bancar todo o luxo e o supérfluo que a mídia faz questão de esfregar na nossa cara como se fosse necessidade básica. Entendeu a conexão?

É por isso que eu assino embaixo do que diz Sérgio Latouche. “O consumo traz cada vez menos a felicidade...O estresse tornou-se um problema grave em nossa sociedade. Mas ao mesmo tempo somos viciados nesse estilo de vida. Necessitamos de uma terapia...Nós quase precisamos de um curso de desintoxicação para reaprender a viver. E, nesse ponto de vista, o decrescimento é uma arte de viver.”

Eu já estou decidida. E você? Pronto para decrescer algumas coisinhas na sua vida, de forma a abrir caminho para o crescimento de sua alegria e paz interior?



Foto: Alexandra Marie (Revista Vida Simples)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Missão: aprender (artigo)

Falando sobre espiritualidade e filosofia, em almoço com amigas queridas de infância, uma delas comentou, muito humildemente: “não sei qual é a minha missão nessa vida, mas às vezes suspeito que estou aqui para aprender.” Coincidentemente ou não, a autora desse comentário sempre foi uma excelente aluna. Do tipo CDF. Era uma das melhores alunas de nossa turma de colégio. O que faz todo o sentido, afinal, mesmo inconscientemente, ela sempre soube sua missão. Aliás, vou além: afirmo que ela sempre soube, com o coração, desvendar o mistério da vida humana na terra. Por que estaríamos aqui senão pra aprender? Alguns dirão: “estou aqui de passagem.” Outros ainda: “só quero ser feliz”. Mas o fato é que de passagem ou não, sendo feliz ou apenas tentando, invariavelmente estaremos aprendendo alguma coisa. A cada dia aprendemos pelo menos uma coisa nova.

A felicidade não se compra nem nasce com a gente. É preciso conquistá-la. E como chegamos lá, senão aprendendo o caminho? Senão aprendemos a nos conhecer, a conhecer os outros, o mundo e a vida como ela é, senão aprendemos a agir para conquistar todos aqueles sonhos que, juntos, se transformam na tal felicidade?

Isso me lembra o motivo de minha irritação profunda com quem se acha importante, intelectual, sabe tudo, superior ao resto do mundo por ter mais cultura, conhecimento e informação. Às vezes, aprendemos muito mais com um ignorante do que com um letrado. A alegria e surpresa do ignorante quando aprende uma lição é muito mais inteligente do que a postura arrogante do intelectual auto-suficiente. Quem se acha superior não desce do salto para enxergar as maravilhas que estão no andar de baixo. Quem acha que só tem a ensinar perde uma grande oportunidade de aprender.

Sempre fui meio insegura, cheia de dúvidas, inconstâncias e incertezas. E talvez por isso, já fui muito julgada. Fui apontada como inocente, criança, alienada, bobinha. Porque não tenho vergonha de mostrar o quanto ainda preciso aprender. O quanto da vida não sei. Não tenho vergonha de dizer: “não sei, não conheço, me ensina?” Pois agora, posso finalmente afirmar, sem nenhuma dúvida. Se existe uma certeza em minha vida é essa: vim aqui pra aprender. Deus me livre de me achar superior. O dia em que eu achar que sei tudo, que não tenho mais nada para aprender, estou pronta para morrer. E sinceramente espero que esse dia demore muito a chegar!

sábado, 16 de agosto de 2008

Você já chateou hoje? (artigo/crônica)

Vivemos no mundo dos chatos. Daqueles que extrapolam os limites da chatice “falando” no chat. Sim, porque as palavras, ou teclas abreviatórias despejadas no branco da janelinha insistentemente piscante, só demonstram quanto tempo as pessoas têm perdido com coisas inúteis. E se você pensou que me refiro a jovens monossilábicos, aculturados, trocando grunhidos, esqueça. Eles, sim, são felizes. Cultivam suas amizades e enchem suas rotinas de alegria, zoação, brincadeira...

Meu papo é com os executivos, editores, gerentes, chefes e afins que perdem seu tempo se estressando com cobranças absurdas, piscando de cinco em cinco minutos na tela de seus amados subalternos. Sendo que, em se tratando de chat, os minutos duram uma eternidade, que fique claro! Por isso, as perguntas vem de segundos em segundos, para dizer a verdade. O pobre coitado do trabalhador, ao ver as mil perguntas do “superior” pipocando na tela, não tem nem tempo para pensar na resposta que vai dar para as tais cobranças. Quanto mais para realizar as tarefas que lhe foram encomendadas!

Os subalternos, por sua vez, também só desperdiçam teclas e preciosos segundos com os tais chats. Infelizes com sua pobreza, investem na pobreza de espírito e perdem seu tempo falando mal do colega de trabalho, que é tão ferrado como ele, só para despejar sua raiva e se sentir vingado. Com medo de ser passado pra trás. Será que ele não vê que o tempo em que está digitando inutilidades, ridicularizando ou odiando alguém, esse alguém, o “concorrente”, pode estar saindo na frente, realizando um trabalho melhor que o dele? E é aí é que mora o perigo...

Agora, acabo de descobrir que também se fazem entrevistas de emprego pelo chat. “Que idéia genial!”, pensei, ao ser convidada para um processo de seleção online e a-jato. Caiu como uma luva. Eu saí do trabalho dizendo que ia almoçar e fui teclar com o empregador no escritório de uma amiga, ali pertinho. Mas ao chegar lá, mudei de idéia completamente.

Em primeiro lugar, por mais que tente, não consigo me acostumar com essa mania de conversar e botar as fofocas em dia por e-mail, orkut ou chat. Trabalho produzindo conteúdo para web, desde os primórdios da internet, mas sinto falta da privacidade do encontro, do calor da voz e das expressões faciais do interlocutor, do seu movimento corporal. As palavras nem sempre são os melhores indícios de que a pessoa que as digita está sendo sensata, verdadeira, correta. Preciso analisar o conjunto para saber onde estou pisando. E não ser pisada.

Pois só não digo que me senti pisada nesta entrevista chateada e infeliz por um motivo: me orgulho cada vez mais de ainda não ter pirado diante da convivência com tanta gente estressada, apressada, de mal com a vida. É, porque só mesmo um louco iria querer testar meus conhecimentos em inglês me mandando traduzir pequenas frases, divididas em três pedaços cada. Quando hesitei para traduzir uma parte dessa loucura e perguntei o que era a tal montagem a que ele se referia naquele fragmento, ele não gostou e já foi mandando um “óbvio que é um show!” Como assim, óbvio???!! A entrevista era para uma revista ferroviária!!! E os pedaços de texto anteriores passavam longe da idéia de show. Mas vamos lá: tentei contornar e não deu. Fiquei nervosa e, como o inglês não é minha língua, não consegui concatenar os pensamentos com a tradução depois disso. “Ok, bye”, disse o cara. E eu só não mandei ele “kiss my ass”, “mother fucker”, “big asshole”, porque queria me despedir de cabeça erguida. Foi então que eu disse: “Para escrever em inglês não se pode traduzir o português literalmente, por partes, já que eles dizem muito mais com muito menos palavras”, e enfim, mandei um “obrigada pela oportunidade”.

De noite, a caminho da faculdade, um ônibus grudou na minha traseira e piscou reclamando por eu ter deixado um carro entrar na fila a minha frente. Depois, tornou a piscar porque na minha frente tinha outro cara lerdo. Eu estava na pista da direita, tá? E os malandrinhos acelerando pelo acostamento... Meu deus do céu! Quando é que o mundo ficou tão louco? Quando é que o tempo diminuiu tanto a ponto de acelerar a pressa e fazer as pessoas se acharem no direito de passar na frente, de reclamar de uma gentileza, de buzinar para alguém que anda sem avançar o cruzamento? Só hoje, já li o jornal, arrumei a casa, saí da Barra para trabalhar no Centro, assisti aula na faculdade, joguei futebol e passei a noite redigindo esse desabafo. E não agredi ninguém porque estava com pressa para chegar até o fim do dia! Será que eu sou um ET?

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Refém de si próprio (artigo)

Você anda angustiada, com dores no peito e um embrulho no estômago que parece querer impedir que o ar saia da boca pra fora? Mesmo que você tenha um refluxo crônico, ou apenas asia, má-digestão temporária, ou ainda tenha sido infectado repentinamente com uma bactéria ou gastrite, a cura para sua dor pode estar em dois lugares: no cérebro e no coração. Afinal, se o ministério da saúde não adverte, eu aviso: as dores da alma são capazes até de detonar um cancer no sofredor. Então, como evitar que os problemas sejam somatizados a ponto de virarem doença? Elementar, caro leitor. É preciso se libertar dos sentimentos ruins. Fazer um exorcismo mesmo. E, para isso, não é preciso de pastor, Deus, macumba ou um doutor Fritz da vida. Só você pode se curar.

A psicanalista e escritora Beth Valentim falou muito bem, aqui, sobre os desavisados que se aprisionam a pessoas e sentimentos que os fazem sofrer. Humildemente, peço permissão à psicanalista, para ir além. Ninguém nos faz sofrer se a gente não der abertura para isso. O pior prisioneiro é aquele que se torna refém de si próprio.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Geração MSN (artigo)

Sabe aquele papo típico de bar? Quando se discutem assuntos polêmicos como política, futebol e religião? Quando, depois de muitos chopes, os desconhecidos começam a trocar confidências e a filosofar sobre o sentido da vida? Temo que isso em breve não vá mais existir. A não ser que o bar se mude para dentro de casa, ao lado do computador, ou para dentro de uma lan-house. Sim, porque cada vez mais as pessoas não têm o que falar quando se encontram com os amigos. Elas já esgotaram todas as fofocas pelo e-mail, msn, orkut e os malditos comentários de blogs e afins!Como já falei demais do correio eletrônico, site de relacionamento e chat em textos anteriores, dedico-me agora aos tais comentários.

Imagino que para a diretoria de um jornal e para um autor de matéria ou artigo deve ser ótimo saber como o próprio texto foi recebido pelos leitores. Eu, que sou autora “famosa” apenas entre meus amigos, só recentemente descobri como é bom "ouvir" os amigos sumidos, mesmo que isso ocorra nos frios espaços da web. Não nego a qualidade dos tais comentários para quem quer testar a audiência e coisas do gênero. E até aplaudo o lado libertário e democrático da coisa: de dar voz ao povo. O que não entendo é como as pessoas perdem tanto tempo e, principalmente, têm coragem de falar de coisas tão íntimas para esse mundo de gente que acessa a internet.

Sempre fui muito expansiva. Uma das primeiras características que as pessoas costumam associar à minha pessoa é exatamente a completa falta de timidez e, porque não dizer, uma ligeira cara-de-pau. Mas aqui confesso: morro de pudores de sair tascando comentários fragmentados sobre as notícias e os textos alheios, em páginas da internet, que milhares de desconhecidos vão acessar. Falo tudo, falo até demais, mas com aqueles que me conhecem ou que, pelo menos, estão vendo a minha cara durante meu pronunciamento. E me respondem na hora, senão com palavras, mas com olhares que dizem tudo. Também exponho minha opinião quando escrevo, seja artigo, crônica, conto ou poema. Mas esses comentários são estranhíssimos. Já ensaiei escrever um ou outro mas me arrependi. Algumas vezes, cheguei a ficar dez minutos digitando minha opinião, para na hora H apagar tudo e desistir de apertar o botão de enviar.

Parece que as pessoas aplacam suas carências de ser ouvidas, digitando seus comentários. Imagino até o que deve acontecer em alguns lares. A mulher chega vinda do trabalho e aborda o marido. Digamos que ela queira lhe contar suas teorias sobre o assassinato da Isabela Nardoni (só se falava nisso no dia que escrevi esse texto). Então o esposo responde que está ocupado, diante do computador. E não é que ele está justamente comentando esse assunto, na internet, com um bando de desconhecidos? Ele fala com o resto do mundo, mas não tem tempo para conversar com a mulher. Frustrada por não ter sido ouvida, é capaz de a moça tomar o lugar do companheiro quando ele for dormir e digitar seu comentário no final da mesma matéria jornalística sobre a qual o marido opinou. E os dois vão dormir felizes, afinal muita gente lerá suas opiniões. Eles estão quase famosos!

Que mundo é esse em que se dialoga mais com quem não faz parte das nossas vidas do que com nossos próprios filhos, maridos, esposas e amigos do peito? Quer dizer: será que daqui a quarenta anos os adolescentes teclantes de hoje ainda terão amigos do peito, ou só amigos do orkut e msn?

Como você vê o futuro da geração MSN? Eu não faço comentários em texto alheio, mas, por favor, não se esqueça: os seus comentários são muito bem vindos!