quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Melhor do que ontem (artigo)

Nunca assisti o Brazil’s Next Top Model, mas como sou telespectadora da Sony, frequentemente sou bombardeada pelas chamadas para esse programa durante os intervalos comerciais. Fui ao banheiro durante a exibição de uma dessas propagandas e de lá ouvi Fernanda Motta, a apresentadora, falando numa voz de perua, que me soou extremamente fútil: “Para ser modelo, não basta ser boa, tem que ser a melhor.” E não é que esse caso me lembrou o depoimento de uma conhecida atriz global?

Trabalhei durante 5 anos e meio na TV Globo e, apesar de preferir não citar nomes, preciso relembrar um evento específico. Uma talentosa atriz da casa, jovem, linda e bem-sucedida, é uma das mulheres mais antipáticas e pedantes que eu já vi na vida. Diz-se, à boca pequena, que ela até já conseguiu ultrapassar uma famosa veterana no quesito estrelice. Pois bem. Assistindo a entrevista da dita-cuja num programa de entretenimento, me saltou aos ouvidos o comentário que ela fez sobre sua infância com o pai. “Sempre que eu ia participar de competições, meu pai me dizia: _Filha, não importa apenas competir, você tem que ser a melhor.” Foi então que compreendi. Está explicado o porquê da bela subir no salto e sustentar a postura de quem se acha melhor do que os “restos mortais”.

Mesmo sabendo que o mundo artístico é um celeiro de egos inflados, aproveito a ocasião para afirmar: infelizmente, esta mentalidade não reina apenas no mundo da moda e das artes. O instinto de competição do ser humano é muito estranho. Em todos os ambientes de trabalho por onde passei, e acredito que isso não aconteça apenas comigo, pude notar uma cambada de gente invejosa, competitiva, fazendo questão de se sobressair à custa da diminuição ou ridicularização do outro.

O que me faz lembrar do comentário do meu pai sobre meu último post, Decrescimento é a palavra. Preocupado como só os pais e as mães sabem ser, ele disse que eu queria mudar o sistema, ao sugerir que todos nós trabalhássemos menos. Afirmou ainda que ele nunca trabalhou por obrigação e sim por prazer, por isso as muitas horas de labuta não lhe causavam sofrimento.

Ok, pai. Concordo contigo. Eu sou completamente workaholic e, como trabalho com o que gosto, tenho que me policiar de todas as maneiras para não esquecer que tenho marido, família, amigos e um mundo fora do escritório. Até comer e dormir direito fica difícil diante do meu entusiasmo por fazer cada vez mais e melhor o meu trabalho. E é exatamente nesse ponto que eu queria chegar. Quero sempre fazer mais e melhor o meu trabalho. Não dá para direcionar minha atenção e esforço para ser melhor do que os outros. Só podemos - e devemos, acredito eu - ser melhores do que nós mesmos. Até porque não podemos nos comparar a ninguém. Cada pessoa é única. Cada um tem os seus pontos fortes e fracos a serem trabalhados.

Por isso, repito: só posso ser melhor do que fui ontem. O resto é consequência. Se eu focar minha energia no meu desenvolvimento e progresso constantes, aí sim posso me sobressair em relação aos outros. E, mesmo assim, isso nem sempre acontece, vide o medalhista fenômeno Michael Phelps. Por mais evoluídos que os outros nadadores sejam, é quase impossível derrotar o “anfíbio” americano. O melhor que os concorrentes têm a fazer é aceitar o fato de que serão coadjuvantes, e, no máximo, ficarem de olho no comportamento do cara, para entender o que o torna tão imbatível.

Aliás, já que tocamos no assunto, concluo esse texto explicando quem me ensinou a pensar assim. Quando eu competia, principalmente naqueles inúmeros anos de natação irritantemente matutinas, era meu pai quem me aconselhava. “Filha, não interessa se você ganhou ou perdeu e sim se você fez o melhor que pode.” Então, pai, aproveito a oportunidade para falar, de todo o coração, sobre minha vida profissional: graças ao seu exemplo e conselhos, sempre dei o máximo de mim e, hoje, durmo com a consciência tranquila. E paz de espírito como essa definitivamente não tem preço! Obrigada pelos ensinamentos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Logicamente bons conselhos são importantes, ainda mais sendo dos pais. Mais importante ainda, entretanto, é como reagimos a eles. De nada adiantam bons conselhos se não damos bola pra eles ou os transformamos em algo negativo. Neste sentido, seu pai é que deve agradecer, pois teve a filha que mereceu!

Débora disse...

Oi Mariana,
Não sei se vc lembra que trabalho com vendas.Onde trabalho competitividade a flor da pele é palavra de ordem. E apesar de adorar meu trabalho , esse clima de guerra constante, onde todos ao seu lado são potenciais inimigos, querendo te "passar a perna", "te derrotar" me faz sofrer. Parece que seu texto veio para mim no dia em que mais precisava. Hoje, repeti seguidamente para mim que devo me concentrar em fazer o meu melhor e não me deixar contaminar por esse astral doentio que o meu mercado de trabalho tenta impor. Adorei ler o texto que reforçou mais ainda esse meu pensamento. Você disse:" só posso ser melhor do que fui ontem. O resto é consequência" "focar minha energia no meu desenvolvimento e progresso constantes" Vou guardar esse pensamento bem perto de mim, para usá-lo sempre.
bjs