quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Coitadinha é a mãe (desabafo)

Já disse aqui que escrever é uma ótima terapia. Repito. Principalmente quando você se predispõe a falar de si próprio e se permite deixar a mente divagar e vai digitando quase na velocidade dos pensamentos. Por isso, recomendo a escrita a todo mundo que tiver curiosidade ou a mínima vontade de fazê-lo. Principalmente para aqueles que acreditam na psicanálise. E, se você não se sente à vontade, não precisa mostrar o texto pra ninguém (a não ser o analista, se houver um). O importante é ter coragem de começar. O que vem depois é um presente maravilhoso.

Mas pra sessão de auto-análise funcionar é imprescindível escrever com o coração. A razão tem que ser deixada de lado. Pelo menos num primeiro momento. Depois de acabar, você pode até reler o texto e consertar alguns erros de português, melhorar a forma de se expressar ou cortar supérfluos, mas a idéia principal, a mensagem mais importante que o seu subconsciente tiver escrito por você, essa sim, tem que permanecer intacta. Digo isso porque outro dia escrevi um desabafo sobre os meus próprios defeitos e mandei para um amigo meu, avisando que, se ele quisesse, poderia publicar no site dele, mas, de antemão, eu duvidava que aquele texto despertasse interesse em alguém. Achava que ninguém estaria interessado no meu infinito particular. Pois bem. E não é que ele adorou? Tanto que publicou aqui.

Por que ele adorou? Simples. Porque poucas pessoas admitem as próprias falhas. E, o mais importante: pouquíssimas têm estômago para tentar entender porque são assim. Assumir perante o outro então é mais raro ainda. E é aí que eu queria chegar. Deixando de lado o meu defeito de me abrir demais para pessoas que não merecem e não estão nem aí pro meu relato, pessoas muito queridas que merecem minhas confissões, muitas vezes, quando me ouvem relatando algumas dessas minhas descobertas, ficam com pena de mim. "Coitada da Mariana! Está encucada com tanto problema criado por ela própria. Uma menina bonita, doce, rica (há controvérsias), saudável, etc etc, parece que fica inventando problema onde não existe. Como ela é fraquinha!"

Eles não poderiam estar mais enganados. Todo mundo tem problemas. Isso é normal. Não é um drama. Faz parte da vida. E digo mais: todo mundo cria seus próprios problemas. Já reparou quando aquela sua amiga te conta uma história enorme, em tom de choro, de um drama que você já tá de saco cheio de ouvir porque enxerga o quão fácil é a sua solução? Mas que sua amiga não consegue resolver, coitada? Você pensa assim: "É tão simples. Basta agir assim e assado." Mas quem disse que a fulana faz isso? Não faz. Da mesma forma que você comete vários absurdos e sofre com isso. E sua amiga, ao te ver sofrendo, também pensa: "Como a sicrana é cega. A resposta está na cara e ela não vê." E isso acontece com todo mundo. Do lado de fora é tudo mais fácil. Você resolveria o problema "assim e assado" porque você não está no lugar da fulana, não foi educado como ela, não teve as experiências de vida dela, não tem a personalidade, o passado, a vida da fulana. Você vê a vida como a sicrana que você é, ora bolas!

Como eu disse: todo mundo tem problemas. E não adianta responder que há alguns maiores e outros menores. O que dá a dimensão exata do drama é a maneira com que a pessoa reage ao problema. E, pra mim, há três tipos de pessoas: aquela que admite os próprios defeitos e se aprofunda neles para tentar evitar que eles sejam recorrentes, para cortar o mal pela raiz, aquela que vive na superfície, sempre achando que o problema está no outro e ela é uma injustiçada, e aquela que até tem consiência das próprias mazelas, mas, por livre e espontânea vontade, resolve empurrar com a barriga. Coitadinho pra mim é quem vive a vida na superfície. Afinal, se ele é um injustiçado e o problema está no outro, ele nunca vai se livrar do problema, a não ser que mate o outro, não é mesmo? (Será que é daí que nascem os psicopatas??) Já quem reconhece que o problema está dentro de si e sofre ao cair na real, esse sim tem o poder de mudar as coisas, vai se mexer para virar o jogo, porque sabe que isso só depende dele. Sem dramas.

Então, não se esqueça: quando algum amigo vier te contar que descobriu que age assim por causa disso, disso e daquilo outro, e resolveu mudar, não fique com pena dele. Dê os parabéns. Não o aconselhe a parar de falar besteiras nem tente compensá-lo elogiando suas qualidades ou mudando de assunto. Se as descobertas dele forem genuínas, e você realmente gostar do sujeito, encoraje-o a ir fundo na questão. Isso sim é ser amigo. E depois mire-se no exemplo do sujeito para olhar pra dentro de si e ver o que em você próprio pode ser melhorado. Ou não. Você escolhe. Só tenha consiência de que coitado é aquele que acredita que não tem problemas. É ceguinho, coitadinho... Será mesmo que ele é feliz?

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso aí, Mari! Disse tudo!

Todo mundo tem problemas. E pra saber o quão difíceis eles são, não basta ouvir o relato do sofredor, tem que estar na pele dele. Como não dá pra estar na pele dele, resta respeitar sua dor.

Eu também tenho problemas. Mas eu os julgo tão simples, tão irrelevantes, que costumo acintosamente dizer que não tenho problemas...

Beijo!