sábado, 18 de setembro de 2010

Processo criativo

Ultimamente, tenho atualizado muito mais o meu blog poético, o Insônia Literária. Muito mais do que este de onde vos falo, afinal, a poesia jorra de mim de um jeito muito doido. Muitas vezes, uma situação me leva a traduzir meus sentimentos em palavras, sons e, noutras horas, uma simples frase ou palavra de outrem ecoa na minha mente de maneira a desenhar um poema a brotar em flor pouquíssimos minutos depois.

Em muitas destas ocasiões, estou conversando com alguém ou no meio da rua, por isso, se eu não estiver no trabalho em ritmo enlouquecido (o que tem ocorrido ultimamente) e tiver intimidade com o interlocutor, interrompo tudo e começo a escrever no primeiro lugar que houver disponível. Assim, gravo aquilo antes que tudo se evapore ou perca a força de sua espontaneidade. Quem não sabe o que é ser poeta talvez não entenda. E, mesmo os mais amigos que já me conhecem há mil anos, até hoje se surpreendem.

Inúmeras vezes, por carinho e zelo, eles se compadecem de mim pelo que escrevo. Não é assim, gente, como já postei no meu facebook: alimento a raiva, o medo, a revolta, o desejo, a insegurança, a ironia, enfim, ponho fermento em tudo dentro de mim pra regar o brotinho do poema ou qualquer outro texto que vai nascer e, assim, me ajudo a me conhecer melhor. É como se o poema fosse uma lente de aumento. Quando vejo de perto meu rosto é que consigo enxergar as manchinhas da pele, os fios fora do lugar na sobrancelha... E aí então eu respiro fundo e concluo: "Tem muita coisa fora do lugar aqui. Vamos eliminar sujeirinhas?"

Assim, vou tentando deixar aqui dentro apenas os bons sentimentos, aqueles que podem me fazer uma pessoa mais forte e não meramente uma vítima do mundo e de si própria. Igualzinho eu sempre fiz nos meus textos, sejam eles poéticos, literários de outro gênero ou ainda jornalísticos. Primeiro eu cuspo as ideias e impressoes no papel, depois vou lapidando a forma. Quando escrevo poesia não só corto palavras para o texto ficar melhor. Também lapido a minha alma, corto o que não presta, afinal, todos nós temos um diamante bruto em mãos pronto para ser lapidado, mas não é um joalheiro que virá de fora que fará esse trabalho, somos nós mesmos. E, pra quem não sabe, aí vai a dica:  a poesia não revela minha alma, não conta minha vida. Ela é sim uma ferramenta que uso para lapidar minha alma, melhorar minha vida.

Por isso acabo apenas deixando um recado para quem diz que "poesia não dá em nada": pode até não dar dinheiro, mas tudo o que ela faz por mim literalmente não tem preço!

E por falar em poesia, você já visitou meu blog poético hoje? Tá cheio de novidade. Passa lá! http://insonialiteraria.blogspot.com Entre e fique à vontade!

Um comentário:

Alessandro disse...

Impressionante! Me identifiquei bastante com o que vc escreveu. Atualmente não escrevo mais, de fato não sei dizer o motivo. Mas houve um tempo em que o processo de lapidação (que vc se refere muito bem) passava ostensivamente pela escrita poética, uma espécie de confidente em forma de poesia. Por vezes soando hermérico, o texto deixava a seara do publicável e se convertia e plena ebulição de sentimentos, que realmente me ajudavam a entendê-los e contextualizá-los. Por muitas vezes me vi quase me traindo nos textos, revelando inconsistências ou simplesmente sendo sincero demais. Mas percebi que não poderia ter segredos pra mim mesmo, deixando de lado a ansiedade que surge quando há a possibilidade do texto sugerir uma confissão pública.
Hoje não mais me percebo assim tão inspirado. Acredito até que sou tomado por espontaneidades que mereceriam mais atenção. Não sei dizer se algo mudou em mim, se a mudança foi no papel que os poemas assumiram nesse eterno processo de autoconhecimento, ou se realmente mergulhei num abismo escuro onde tentamos nos esconder de nós mesmo (um engano rudimentar). Talvez seja uma cronificação do descrédito que por vezes perturba a percepção do que produzo. Mas não perdi a capacidade de exercer a empatia, de vislumbrar o ente escritor que me oferece sua inspiração em forma de leitura. Eis aqui o motivo de me identificar com suas palavras. A poesia revolve os medos e pode acirrar o incômodo de não estarmos atentos a nós mesmos.